terça-feira, 26 de abril de 2016

Sonho meu

Ontem à noite, na volta do futebol, não precisei mandar ninguém tomar banho; não precisei mandar ninguém jantar sem enrolação; não precisei mandar ninguém escovar os dentes; não precisei mandar ninguém se deitar na hora certa. 

Ontem, especialmente ontem, meu sonho começou antes que eu dormisse. 

Nossa Senhora das Mães de Causas Impossíveis, conserve esse milagre, amém. 

Mudam os atores, ficam os personagens

De tanto eu insistir, João está lidando melhor com o para casa. Tenho procurado encarar a coisa com mais leveza e valorizo cada uma de suas conquistas. Conversei também com a professora, que está fazendo algumas intervenções milagrosas na sala de aula. Ele está mais paciente, confiante e obediente.

A coisa ficou tão boa que, adivinhe?

Agora, quem começou a morrinhar foi o Davi.


segunda-feira, 25 de abril de 2016

Folgadão

Vivi se deitou no sofá e começou a resmungar.
Incomodada com a chorumela sem fim, perguntei:

- O que é que tanto está te incomodando, Davi?

Ele, mau humorado, respondeu:

- Eu não estou ficando aconchegante.


Exigente

No almoço, João se manifestou:

- Nota mil para essa comida.

Animada, agradeci.

Ele, exigente, cortou o meu barato:

- Mil a menos. Você sabe que eu não gosto de angu.


Recordar é morrer de sono

Clarinha, minha sobrinha e afilhadinha querida, de dois anos, passou uma noite conosco.
Os meninos brincaram até cansar e, lá pelas tantas, caíram no sono. Menos a Clarinha.
A pobrezinha chamou a mãe, chorou, mamou, conversou, brincou. Só não dormiu. Ficamos as duas lutando contra o cansaço.
É de impressionar a nossa capacidade de deletar determinados perrengues da memória. Hoje, parece que eu nunca passei uma noite em claro, cuidando de menino. Deve ser questão de sobrevivência, sei lá.

No dia seguinte à maratona, ainda animado com a companhia da priminha, Davi se declarou:

- A Clarinha é muito bonitinha, né, mãe?

Só me coube uma resposta:

- É linda. Mas só de dia.


quinta-feira, 14 de abril de 2016

Driblando a marcação

Tento, ao máximo, impedir que os baixinhos digam palavras feias. Nem me refiro aos palavrões, porque estes eles sequer cogitam pronunciar. Mas, às vezes, acaba escapando uma ou outra feiurinha, aprendida com os coleguinhas da escola. A maioria é até inofensiva, devo confessar. Mas, para não perder o controle, barro todas elas na porta de casa.

Outro dia, num momento de desabafo, os irmãos-iguais encontraram uma maneira de driblar a minha patrulha:

- Bos - começou o Davi
- Ta - terminou o João

Ta-cho foi a cara que eu fiquei.


Impaciente


O interfone tocou insistentemente.
Davi, impaciente, reclamou com a visita:

- Nossa, você toca muito o apertone.


Amor de irmão

João descobriu a beleza dos topetes e agora passa horas na frente do espelho até conseguir toda a verticalidade desejada. Na saída para a escola, ele exagerou no penteado e acabou ouvindo a opinião do irmão-igual, o super sincero:

- Seu cabelo ficou horroroso.

Acostumado a receber essas manifestações de amor, ele prontamente devolveu o elogio:

- Horrorosa é a sua avó (que, no caso dos dois, é a mesma).

Mãe, não tenho nada a ver com isso.


quarta-feira, 13 de abril de 2016

Injustiças

Na porta do supermercado, uma jovem senhora com a perna quebrada pediu ajuda para comprar comida. Disse que tem quatro filhos e os deixou em casa para tentar conseguir o que comer. Eu, com meus três pintinhos na barra da calça, não pude deixar de me comover. Eles também. 

Lá dentro, fizemos duas compras. Uma para nós, outra para ela. No caixa, enquanto um funcionário ajudava a embalar os mantimentos, o baixinho-grande advertiu:


- Esses aqui a gente vai colocar em outra sacola. É para a moça lá fora. 


O funcionário contestou:


- Ela tem passado os dias inteirinhos aí. Já perdi as contas de quantas coisas ela já recebeu. Quanto mais vocês derem, mais ela continuará na porta, pedindo. 


O baixinho argumentou:


- Mas ela disse que os filhos estão com fome. 


O funcionário retrucou:


- Ela sempre diz isso. Já é conhecida na região.


Ficamos numa sinuca de bico. Ou atendíamos à solicitação do supermercado e ignoraríamos o pedido da moça, ou daríamos os alimentos e incentivaríamos o hábito de mendigar. E como ficariam os quatro filhos com fome, se é que eles realmente existiam? 


Decidimos guardar os mantimentos e doá-los para outras pessoas, em outro contexto. 


Na saída, a jovem senhora nos viu carregada de sacolas e perguntou se alguma era para ela. 


- Infelizmente, não - respondi. 


Ela abaixou a cabeça e se resignou.
 

Eu fiz o mesmo. 
Passei algum tempo pensativa, lamentando as injustiças do mundo. 
O baixinho-grande, sensível como é, percebeu a minha frustração:

- Você não está feliz, né, mãe?

Não, filhinho. 

Êta, vida dura.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Fazendo do limão uma limonada

João tem uma relação conturbada com abelhas.
Ele não gosta delas, elas o adoram.
Só esse ano, o pobrezinho foi picado quatro vezes.
O ambiente pode estar cheio de gente, mas quem elas preferem? João.
Outro dia, fui colher roupa no varal e tinha uma abelha pousada em uma peça.
De quem era a roupa? Do João.
Espantei a danadinha e ela foi atrás de quem? Do próprio João.

Cansado de nadar contra a correnteza, ele resolveu assumir a sua identidade:

- Mãe, agora sou um super herói.
- Qual, filho?
- O Homem Abelha!


Psicologia materna

Eis que a moda agora é deixar o shampoo tombado no chão do banheiro, escorrendo ralo abaixo.

Cansada de apelar, em vão, para o bom senso da tropinha, decretei que os três terão que fazer vaquinha para comprar o próximo shampoo todas as vezes que eu flagrar o desperdício.

E nem adianta chorar pelo shampoo derramado.


Chantagista

João e eu assistíamos a um programa de culinária cujo apresentador é um galã que sempre me arranca suspiros. Percebendo a minha cara de boba alegre, o danadinho perguntou:

- Mãe, quem você acha mais bonito, ele ou o Gui?

Eu, inadvertidamente, respondi.
Ele deu uma risadinha perversa e saiu da sala, cantarolando:

- Guiiiiii, tenho que te contar uma coisaaaaaa...



Piedade, Senhor!

Só uma coisa a dizer sobre os deveres de casa da duplinha nessa fase de alfabetização:

Compartilhando conhecimento

- Mãe, como chama aquilo por onde as meninas fazem xixi?
- Vagina, Davi.

Satisfeito com a descoberta, ele foi correndo contar para o irmão-igual:

- João, João, sabe como chama aquilo que as meninas têm?
- Como?
- Ragina.


Como se o mundo fosse acabar

Peguei a pior gripe da história da humanidade e só não morri porque não estou podendo me dar a esse luxo. Agora, estou na fase da tosse, que está diretamente proporcional aos espirros, à febre e à dor no corpo que me acompanharam nos últimos dias.

Assustado com a intensidade de uma das crises, João apertou a minha mão e perguntou:

- Mãe, você vai explodir?


sábado, 9 de abril de 2016

Compensações

Olha o naipe do desenho do menino da letra feia:












Quem acha que ele será arquiteto põe o dedo aqui, que já vai fechar.


sexta-feira, 8 de abril de 2016

A vida como ela é



- Mãe, preciso levar 100 reais para a escola.
- 100 reais, Pedro??? Para que essa fortuna toda?
- Para o uniforme do Sub-11, a carteirinha e a van do primeiro jogo.
- Minha Nossa Senhora!
- Mas não preocupa, eu volto com 2 reais de troco.

terça-feira, 5 de abril de 2016

Fã clube



Adivinhe quem entrou para o time oficial da escola dois anos antes do previsto e já está sendo treinado, segundo o técnico, para ser o capitão da equipe? Isso mesmo, Pedro Lacerdinha.

Peraí que eu vou ali dar uma morridinha.



segunda-feira, 4 de abril de 2016

Autocrítica




Flagrei o baixinho-grande pelejando com a letra no para casa. Escreveu, desmanchou, tentou mudar o formato, desmanchou de novo. Curiosa, perguntei o que o estava incomodando.

- Acho minha letra muito feia, mãe.
- Não se preocupe, filho. Nem todo mundo tem a letra bonita mesmo. O importante é que ela seja legível.

Não satisfeito, ele continuou:

- Como chama aquele caderno de desenho de letras?
- Caderno de caligrafia.
- Você compra um para eu treinar?

Ainda hoje me pergunto se esse meu baixinho é de verdade.


sexta-feira, 1 de abril de 2016

Problema de nerd


Pedro e seus conflitos escolares:

- Mãe, peguei um livro na biblioteca hoje e já terminei de ler. Tinha 143 páginas. Estava querendo devolver para pegar outro, mas você acha que a moça da biblioteca vai achar que eu não li?


Alerta geral

João vem correndo da sala e grita:

- Mãe, tem uma microcefalia na sala.

Davi vem atrás e, fatalista, lamenta:

- E me picou...