segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Preocupação precoce

Tia Metícia pegou o João pra passear. Só o João, porque o Davi tava dodói. O baixinho, que gosta de dar notícia de tudo o que acontece, quis saber onde eles iam. Expliquei:
- Vão passear um pouquinho para a mamãe poder cuidar melhor do irmãozinho. Daqui a pouquinho eles voltam.
Como o daqui a pouquinho estava demorando demais, o pequeno começou a ficar impaciente. De minuto em minuto olhava pela janela e dizia, com carinha de preocupação:
- Nem sinal deles.
E soltou a pérola:
- Ai, mãe, será que eles morreram?

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Saudosismo

Desde que nos mudamos, hoje foi a primeira vez que o pequeno demonstrou saudade da vida de BH. Foi de cortar o coração:

- Mamãe, tô com saudade da Júlia...
- É, eu sei, filhinho... mas por que só da Júlia? E dos seus outros amigos de escola, não?
- Deles também, mas da Júlia mais, porque ela era minha namorada.

Deu dó.
O primeiro amor a gente nunca esquece...
Bem-vindo ao mundo dos corações partidos, filho...

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Lição do dia

Estava na porta da escola aguardando a saída dos dois. Eis que surge a professora, pálida e apreensiva:

- Mamãe, o Davi caiu. Tá com um galo bem alto na testa e o narizinho esfolado.
- Ele ficou sonolento ou com o comportamento alterado?
- Não, só está um pouquinho manhoso, porque deve ter doído muito.

Enquanto conversávamos, vieram os baixinhos. Davi com carinha de sofrimento, João com cara de quem viu tudo. Por sorte, não foi nada sério. Mas a professora continuava inconsolável. Tentei tranquilizá-la:

- Não se preocupe. Isso às vezes acontece debaixo do nosso nariz e não dá tempo de fazer nada. Se não foi por descuido ou desatenção, tá tudo bem.

Ela, enxugando as lágrimas, respondeu:

- Mas a gente prefere que aconteça com vocês, pais, e não com a gente.

Aprendi mais uma lição: cuidar dos filhos dos outros é sempre mais difícil do que cuidar dos nossos. Por isso custa caro. Não dá pra economizar em atenção e cuidado.


Dorme, mamãe

As últimas noites foram daquelas... difíceis pra todo mundo, inclusive pra eles. Só que eles podem tirar o atraso durante o dia. Eu não. Então, começamos a campanha "Dorme, mamãe". Várias pessoas já aderiram.

Então é assim: na escola, nada de soneca depois do meio dia. E nada de pestanas diurnas para o baixinho também (a regra vale para todos). Ao cair da noite, chazinho de camomila, meia-luz, musiquinha, remédio para pernilongo, ventilador e um sossega leão que o tio pediatra passou.

Agora eu quero ver!
Ou melhor, quero dormir.
Boa noite.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Com a bola toda

O tio pediatra abriu seu próprio consultório.
Coisa mais linda, todinho pensado na criança.
Ele, a maior criança de todas, está feliz da vida.
Um basta à ditadura imposta pelos planos de saúde.
A realização do antigo sonho de cuidar mais e melhor.
Puro atrevimento.

Ah, se não fosse meu irmão...


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

De prontidão

Estavam o três no banco de trás e eu na frente, dirigindo. Isso significa não ter nenhum controle sobre o que está acontecendo lá atrás. Principalmente porque o bebê conforto dos dois fica de costas para o banco da frente, fora do alcance do espelho retrovisor. Quem me dá notícia é o baixinho.

Eis que, do nada, João começou a chorar. Choro sentido, como se tivessem tomado alguma coisa dele. Sem parar de dirigir, perguntei:

- Filho, o que está acontecendo aí?
- Nada, mãe. Eu só tirei essa tampinha de canetinha de dentro da boca do João. Ele tava quase engulindo.

E me entregou a tampinha semidigerida. Nem sei há quantos dias o danadinho estava com aquilo escondido na boca, brincando de esconde-esconde entre a gengiva banguela e a bochecha. Talvez eu só saberia quando saísse. Ou se engasgasse. Ou coisa pior.

Parece que, além de irmão mais velho, o baixinho também é um pouco anjo da guarda...


domingo, 20 de fevereiro de 2011

Padecendo no paraíso

Todo menino fica mais morrinhento perto da mãe. Isso faz de nós um ser sempre cansado. E se a gente sorri por fora é porque lá no fundo sabe que tudo passa. Inclusive a morrinha. Só que, até tudo passar, qualquer coisa que sobrar de nós também vai estar cansada, clamando por uma noite sem choro, um dia sem pressa e algumas horas sem preocupação. Até o próximo sorriso deles.


Prejuízo

Outro dia quase morri de vergonha na casa de uma amiga. Os dois mal entraram em casa e fizeram um escândalo danado quando viram uma penca de banana em cima da mesa. Cada um comeu uma. O baixinho, pra não ficar pra trás, entrou na comilança também. E pediram mais. Resultado: seis bananas a menos e três barrigas doendo. E olha que os dois só têm dois dentes cada um...
Imagine se a arcada estivesse completa?
Ai, que vergonha!



sábado, 19 de fevereiro de 2011

O dono da brincadeira

Coisa mais linda ver os três brincando.
Os dois olham pro baixinho como se pensassem: "ainda vou fazer tudo o que esse cara faz..."
E, sabendo que está diante de dois fãs, ele se enche de autoridade e decreta:

- Irmãozinhos, me sigam-me. Sou o mestre.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Descansar carregando pedra

Foi o tempo em que eu esperava ansiosamente pelas sextas-feiras. Hoje a coisa mudou. Já imaginou o que são dois dias e noites inteiros com três meninos dependurados? E com um agravante: mãe por perto é sinônimo de manha, pirraça, briga e outras coisinhas mais.

Venha a mim, segunda-feira...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Dedo duro

O pequeno, aos gritos:

- Mamãe, corre aqui! O João tá batendo no Davi!

E, com cara de quem quer ver o circo pegar fogo:

- Você vai ficar uma onça com ele, né?!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

As regras do jogo

Os três estavam brincando no chão. Tudo tão calmo que começei a desconfiar. Cheguei mais perto e notei um volume dentro da blusinha do João. Fui direto no dono da brincadeira:

- Pedro, o que tem na roupa do João?
- Nada, mãe, é só o mamá dele começando a crescer.

E caiu na gargalhada.
Enquanto eu tirava os dois pares de meia de dentro da blusa do coitado, pensei se deveria chamar a atenção do baixinho. Decidi que não. Afinal, judiar do mais novo é o primeiro e maior direito do irmão mais velho.



Dramático

Hoje, na porta da escola o baixinho segurou a mão dos irmãozinhos e choramingou:

- Mamãe, não deixe eles irem. Vou morrer de saudade dos meus guti-gutinhos...

O apelido é de autoria dele mesmo.
Já o drama é de alguém que eu conheço...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Solução

Ainda com o mau homor da madrugada, me lembrei da dica que a mãe de uma grande amiga me deu quando estava grávida dos dois. Ela também tem três, incluindo a minha amiga, que, quando novos, deviam ser da pá virada. Veja só:

- Minha filha, quando você quiser que eles durmam a noite toda, dê uma colherinha de vinho pra cada um, cê vai ver que maravilha! Não vai nem lembrar que eles existem...

A dica eu já tenho. Só me falta a coragem...

De espantar a freguesia

Tô muito brava. Brava, não, uma onça! Ontem comecei o ritual do sono às nove e meia. Não é que às duas e meia ainda tava todo mundo acordado? Aqueles dois pares de olhos azuis arregalados na minha cara, como quem diz: 'quem dormir primeiro perde'! E eu igual boba, só na musiquinha, tapinha no bumbum e colo. Ô raiva, sô! Quando, enfim, se renderam, já tava quase na hora de acordar.
E eles, claro, acordaram com a carinha boa, como se nada tivesse acontecido.
E eu com um mau humor de espantar a freguesia.

Ai, vida...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Distribuidor de beijos

O baixinho está com mania de reciclar as coisas. Nada mais pode ir para o lixo. Outro dia ele pegou uma caixinha de leite, tampinhas de refrigerante, palito de pirulito, canetinha, durex e, em pouco tempo, tinha feito o Lucas, seu novo cachorrinho.
Mas ontem ele se superou. Me deu um vidrinho de remédio vazio com uns rabiscos no rótulo:

- Toma, mamãe. Aí dentro tem um monte de beijinho meu. Quando você sentir alguma dor e eu não estiver perto, pega um dentro do pote que a dor vai passar loguinho.

E advertiu:
-Só toma cuidado porque beijos são muito fujões. Se você não pegar logo eles podem ir para outra pessoa...


domingo, 13 de fevereiro de 2011

Meu garoto

Depois que ele descobriu que a mamãe também chora de orgulho, acha que qualquer gracinha é motivo de choro. Na última aula de natação, ele deu uma barrigada na água achando que tinha feito o salto mais lindo do mundo. Quando voltou à superfície, me procurou na arquibancada e disse:

- Pode chorar, mamãe, pode chorar...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Check list

Seis e meia da manhã. Preparar leite com toddy pro Pedro. Trocar a fralda e a roupa dos dois. Colocar o uniforme, escovar os dentes, pentear o cabelo e calçar os sapatos no Pedro. Arrumar as bolsas. Água no rosto. Preparar para sair. Dois num braço, bolsas no outro. Pedro pela mão. Destrancar a porta. Trancar a porta. Descer as escadas. Abrir o carro. Um numa cadeirinha, outro na outra. Pedro no meio. Afivelar os cintos. Caminho de baixo para o berçário. Caminho de cima para a escola. Voltar para a casa. Tomar banho. Tomar café. Seguir para o trabalho. Trabalhar até meio dia. Almoçar. Buscar o Pedro. Buscar a babá. Deixar os dois em casa. Voltar pro trabalho. Trabalhar até cinco horas. Levar o Pedro pra natação. Buscar os dois. Voltar pra casa. Dar banho. Dar janta. Fazer dormir. Tomar banho. Jantar. Preparar as mamadeiras da noite. Assistir jornal. Esticar as canelas. Desmaiar até o próximo choro.
Seis e meia da manhã.

Deus conserve

- Mamãe, você é a melhor mãe de todas! E eu te amo vinte vezes!

Ai, ai...
Quanto tempo vão durar estas manifestações gratuitas de afeto?

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Tirando onda

O pequeno tem voltado da escola praticamente uma minhoca: terra da cabeça aos pés.
E cheio de novidades. A de hoje:

- Mamãe, sabia que amanhã a gente vai fazer tinta?
- Como se faz tinta, filho?
- Primeiro a gente pega a terra, usa umas pedrinhas, põe água e mistura.
- Nossa, não sabia que era assim.
- Pois é, se você estudasse na minha escola você saberia.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Orelhudo

Desde pequeno, o baixinho tem mania de pegar a orelha de qualquer um quando está com sono. Para a sorte dele, a oferta de orelhas aumentou consideravelmente depois que os irmãozinhos chegaram. E ele usa e abusa das quatro. Só que o Davi tem ficado meio sem paciência com o tique do irmão. O pequeno, com toda a sua autoridade de mais velho, debochou:

- Olha, mãe, o Davi é nervosinho de orelha!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Protetor

João passou o fim de semana todo com febre, tadinho. Ficou molinho, só queria colo. Em uma das crises de choro, dividi a aflição com o pequeno:
- Filho, o que a gente vai fazer pro João sarar?
Ele, com cara de sabe-tudo, respondeu:
- Cuidar muito bem dele, ué!




sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Consolador

- Mamãe, você acredita que hoje o João Viktor chorou de novo?
- Nossa, filho. Até hoje?
- Pois é. Eu até falei que quando ele quiser falar com a mamãe dele na escola, é só contar pro papai do céu que ele manda o recado pra ela.

E fez carinha de anjo.
E a mamãe encheu os olhos de água de novo.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Fora da gaiola

Fui buscar o pimpolho na escola e fiquei observando ele de longe. Ele e um coleguinha estavam brincando com uma semente de jatobá. Os dois de blusinha verde, short azul e mochilinha de pano nas costas. Cada um com sua escova de dente, toalhinha, colher e copo. Tudo igual pra todo mundo, o melhor jeito de conviver com as diferenças. Tanto espaço pra correr, árvore para subir, bicho de pé para pegar...

Nada mau para quem antes jogava bola entre o sofá e a televisão.
Enfim meu filho vai poder ser criança!
Obrigada,
Salão do Encontro!


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Novas babás

No prédio novo moram várias menininhas com idade entre 7 e 12 anos. Muitas mesmo, umas cinco. Não demorou para elas elegerem os pimpolhos como novos bonecos. Elas disputam tudo: quem vai escolher a roupa, trocar fralda, dar banho, comida, colo, coisa e tal. Eu acho ótimo. Quando se tem três pequenos, sendo dois da mesma idade, ajuda nunca é demais.
Ontem eu fui dar banho no Pedro e deixei os dois com duas de nove anos. Qual não foi a minha surpresa ao ver que, em menos de dez minutos, estavam os dois dormindo. E no berço. Todos de ladinho pra não sufocar, com almofadinhas nas costas para dar mais conforto, meia luz e porta encostada para não fazer barulho.

Foram contratadas imediatamente.



terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Como um rapazinho

Primeiro dia de aula. Apesar da ansiedade, o baixinho se adaptou muito bem. Tá certo que é um pedacinho do paraíso. Mas eu estava preparada para enfrentar um chorinho básico. Ao ver o pimpolho sentadinho entre os novos coleguinhas, ouvindo com atenção a nova professora e sem nem sinal de choro, adivinhem?

Quem chorou fui eu.

Com o pé direito

2011 começou bombando.
Em um mês, mudamos de cidade, casa, escola e babá.
Os rapazes estão entusiasmados com a boa vida de Betim. No prédio tem piscina, parquinho e muitos, muitos coleguinhas.
A ponto de o baixinho declarar:
- Mamãe, nunca mais quero morar em Belo Horizonte.

Bom sinal, filho. Bom sinal.