Montamos nossa árvore de natal. O baixinho fez questão de cuidar de tudo, do pisca-pisca aos enfeites. A dita cuja ficou meio desengonçada, com todos os frufrus a um metro do chão. Ao final, ele fez a sua avaliação:
- Acho que fizemos um bom trabalho. Papai Noel vai ficar feliz. Agora já posso fazer minha cartinha.
O baixinho me pediu uma árvore de natal. Como nos anos anteriores ele era muito pequeno e participou pouco do processo, fiz questão de iniciá-lo aos ritos com toda pompa e circunstância. Expliquei que no Natal comemoramos o nascimento do menino Jesus e por isso enfeitamos a casa com símbolos que representem os valores que mais desejamos, blá, blá, blá...
- Coisas que mais desejamos? Então vamos ter que comprar um enfeite de dragão.
- Mamãe, não acredito que você vai fazer isso. - Isso o quê, filho? - Levar o Davi doente pra escola. - Ele não tá doente, só tá gripado. - Mas gripe é coisa muito séria, você não sabia?
Davi está quase engantinhando. Se debruça sobre os joelhinhos, empina o bumbum e faz cara de "tô quase lá". João, coitadinho, ainda nem rola na cama. Uma das titias, observando a cena, comentou, cheia de dó:
O pequeno deu para fazer pirraça todo dia antes de eu sair para o trabalho. Ontem ele se superou: - Mamãe, eu não quero que você trabalhe. - Pedro, não tem jeito, a mamãe tem que trabalhar. - É que eu fico muito preocupado com você. - Por que? - Porque eu não estou perto de você pra te proteger.
Ele é pequeno, mas não é bebê. É grande, mas não é adulto. Não ganha mais colo, mas ainda não pode ficar solto. Nessa fase, a vida inevitavelmente se resume a um monte de não.Hoje ele desabafou:
Cinco dias de folga? Que nada! Só porque eu tinha planos de ficar à toa, a duplinha resolveu ficar doente. Gripe forte, febre alta, peito cheio e muito chorinho. Em dobro...
A temporada em que moramos em Betim foi tão gostosa que o baixinho até hoje pede para voltar. Principalmente nos finais de semana, que não tem desculpa para não passear. Fico tentando despistá-lo, porque ninguém merece passar na porta do trabalho em dia de folga. Só que está cada vez mais difícil embromar o danadinho:
- Mamãe, tô com saudade da nossa casinha de Betim. - Pode deixar, a gente vai lá um dia. - Hoje é um dia, não é?