quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Família cachorro

João adotou um cachorro de pelúcia como bichinho de estimação. Para onde vai, leva o tal cachorro. Para piorar o TOC, completou a família com quatro cachorros secundários, sem os quais ele não vive mais. As mordomias da família cachorro incluem assistir aos desenhos preferidos do pequeno sentados nos melhores lugares do sofá. E João fica lá, como cão de guarda, impedindo a aproximação de qualquer um que se atreva a contestar o reinado dos bichanos.

Hoje, ele encontrou a família inteirinha jogada no chão. Chorou um pranto sofrido, como quem diz: "ninguém me respeita mais nessa casa". Para consolar o baixinho, tive que recolocar cada bendito cachorro em seu devido lugar, além de passar um sermão na casa inteira para que o episódio não mais se repetisse.

É, minha gente.
Mãe também tem seus dias de cão.


Política de natalidade

O pequeno deu para contar insistentemente até 7. Ao fim da conta, dá um grito: "nasceu!".

- Que moda é essa, filho?
- É que o Luan disse que cada vez que a gente conta até sete, nasce um bebê. 
- E por que você quer tantos bebês?

Ele, generoso, respondeu:

- Para que nunca falte criança no mundo.

Pedro Lacerdinha contribuindo para o equilíbrio da pirâmide etária mundial.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Efeito placebo

João me deu um beijinho no rosto e constatou:

- Mamãe tá quente. Tá com febe.
- Tô não, filho.
- Tá sim. Olha, Vivi - convocou o irmão para fazer a conferência.

Preocupado, Vivi concordou:

- Tá com febe sim. Vem pegar temédo, João.

Saíram os dois em busca de um antitérmico para sarar a minha febre de mentira. Reviraram brinquedos, gavetas de roupa, armários de cozinha. Nada. Só se deram por satisfeitos depois que inventaram uma receitinha própria. Tive que fingir tomar a substância não identificada e até fazer careta para aumentar a credibilidade da poção.

E não é que, após tantos cuidados, eu até sarei?

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Insone

João perdeu o sono essa noite. Remexeu daqui, revirou dali...
Entre suspiros, bocejos e resmungos, ele dava espiadinhas pela janela para ver se o dia já tinha acordado. 

Assistindo-o brincar com a linha que se soltava do cobertor, fiquei tentando imaginar o que seria capaz de perturbar o sono de alguém tão pequeno. Serão as contas para pagar? O relatório do trabalho não concluído? A pressão do chefe intransigente?

Levantei da cama e o aconcheguei em meu colo.
Fosse o que fosse, nada resistiria ao colo de mãe.
Dito e feito. Dormimos antes de encontrar a resposta.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Paternidade


- Vem cá, irmã.
- Irmã? Tá lelé, Pedro?
- Irmã, sim, uai.
- Como assim? Sou sua mãe, esqueceu?

Ele, muito atrevido, explica:

- Por acaso nós não somos filhos do mesmo pai?

Oh, céus!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Mal acostumado

Hoje pela manhã, no meio do corre-corre que antecede a ida para a escola, o Davi resolveu caprichar na pirraça:

- Onde a gente vai, mamãe?
- Para a escola, filho.
- Ah, não...
- Ah, não, o quê?
- Não quelo escola, quelo pousada.

Haja paciência...
Vivi querido, você pode me emprestar seus sais, por favor?

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Pedroquice sabiá

O pequeno me pergunta, com carinha de sem vergonha:

- Sabia que o sabiá sabia assobiar no pátio Sabiá?

E a mãe do sabiá nem sabia que o sabiá estava tão sabidinho.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Presente de grego

- Mamãe, tô doido para ganhar aquilo que toda criança ganha quando faz seis anos.
- O que, filho?
- Aquela marquinha na testa.
- Qual?
- A que fica perto do olho.
- Hã?
- Como chama mesmo?
- Não sei, filho. Do que você está falando?
- Ah, lembrei o nome: cicatriz.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Ponto de vista

Tivemos um fim de semana delicioso na pousada do Zé. Na volta, a vovó perguntou para cada um o que o lugar tem de tão especial.

- Piscina! - respondeu o Vivi, animado.
- Bicho morto! - disse o João, com a mesma empolgação.

Tudo depende dos olhos de quem vê, não é mesmo?

domingo, 18 de novembro de 2012

Coerência

O pequenininho achou quinze centavos do lado do computador. Perguntou de quem era. Como o dono não apareceu, pediu para guardar. E completou:

- É para comprar uma casa. 
- Ué, filho, mas você não estava juntando dinheiro para ir para a Disney?
- Mas a gente está precisando mais de casa do que da Disney.

É uma preocupação bastante coerente para um adulto de cinco anos.

Infelizmente.   


sábado, 17 de novembro de 2012

Nutricionista



O pequeno acordou passando mal.
Ele mesmo se diagnosticou:


- Acho que eu comi alguma coisa com muita gordura trans.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Cheirinho de amor

Fizemos festival de pipoca, guloseima preferida dos pimpolhos. Enquanto estourava o milho, perguntei ao baixinho:

- É o cheirinho mais gostoso do mundo, não é, filho?

Ele balançou a cabeça, concordando. E com um sorriso encantador, completou:

- É cheirinho de amor.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Crise conjugal

- Que carinha triste é essa, filho?
- É a Júlia, mamãe.
- O que aconteceu?
- A gente estava brincando de jogo da velha no meu caderno. Aí ela fez uma bola do tamanho de um elefante só porque estava perdendo.
- E qual o problema? É só começar de novo.
- É que a página já estava cheia. 
- Não precisa ficar triste por causa disso.
- Estou com vontade de arrancar a folha.
- Credo, filho. Por que você não conversa com ela e esclarece tudo?
- Já conversei. 
- E aí?
- E aí, nada. Não adiantou.
- Ah, então não brinque mais com ela.

Ele ficou ainda mais triste e disse:

- Mas eu gosto tanto dela...

É uma dor que dói no peito, né, filho?

Tesouro

Precisei viajar a trabalho. Foram cinco dias fora. Na volta, após dar os presentinhos de cada um, veio a surpresa. O baixinho tinha preparado um para mim também:

- É um diamante - disse, ao me entregar a pedrinha transparente.
- Nossa, filho, que coisa mais linda - agradeci, emocionada.
- Faz de conta que é de verdade.

Sim, filhinho. É de verdade.
E é até mais precioso, pode acreditar. 





segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Segredinho

Na oficina mecânica, conversando com a atendente:

- Vi as cadeirinhas no seu carro. Você tem três filhos?
- Sim, um de 5 e dois de 2 anos.
- Nossa, sua genética é muito boa.
- Por que?
- Você já está magrinha. A minha filha tem 11 anos e eu ainda não consegui voltar para o meu corpo.

Que nada, boba.
É só ter mais filhos.
Eles são a melhor dieta. 

sábado, 3 de novembro de 2012

Esclarecimentos

João estava dando sopa numa roda de amigos da tia Binha. Tudo ia bem até ele começar a fazer alguns esclarecimentos:

- Mamãe não tem piu-piu.

Matou todo mundo de rir.
Menos a mãe, que morreu de vergonha mesmo.


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Preocupações

Questionamento de um pequenininho precavido:

- Mamãe, como você sabe que eu não vou ser anão?