sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Coisas que não têm preço

Antes de buscar os irmãozinhos na escola, o baixinho-grande e eu fomos à padaria. Deixei-o sentadinho na área da lanchonete enquanto escolhia e pagava as compras. Chamei-o para ir embora, que veio com um saquinho na mão. Pedi que guardasse no lugar, pois não tínhamos comprado aquilo, seja lá o que fosse. Ele contestou:

- Compramos sim, mãe. 
- Não, filho, eu não paguei por isso. 
- Você não pagou, mas eu, sim.
- Pagou? Como?
- Com meu dinheirinho, ué. 
- O que você comprou?
- Uma velinha para o nosso bolo de aniversário. 
- Mas, filho, não precisa gastar o seu dinheirinho com essas coisas, a mamãe sempre cuidou de tudo, não foi?
- É, mãe, mas você já tem que comprar muita coisa. 
- Quanto custou?
- Três reais e 25 centavos. 
- É quase a metade do que você tem. 
- Mas, na sexta-feira vou ganhar mais, não vou? 
- E quando você quiser comprar um brinquedo?
- O que é mais importante, brinquedo ou aniversário?

A essa altura, já tínhamos buscado os baixinhos-pequenos. João, que rapidamente percebeu do que se tratava a conversa, interferiu:

- Deixa o Pedro, mãe. Ele tem muuuuuito dinheirinho.

Parei para pensar. É verdade. Pedro é menino rico. Rico em generosidade, afeto e consideração. Pensei em reembolsar a pequena despesa, mas reconsiderei. Ele quis. Ele escolheu. Ele comprou. O dinheiro é dele. O juízo de valor também. Fez contas, pensou e decidiu. Pronto, agora é dele. 

E o brilho nos olhinhos desse menino iluminado ao ver que tinha bancado a sua primeira decisão sozinho? 
Isso sim, não tem preço. 


terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Heroísmo


A caminho da escola, o baixinho-grande se incomodou com a intolerância do trânsito de Belo Horizonte. Achei que estava na hora de apresentar a ele um dos românticos princípios da mobilidade urbana sustentável, no qual o maior se torna responsável pelo menor:

- É assim, filho: caminhões e ônibus cuidam dos carros, carros cuidam das motos, motos cuidam das bicicletas e todos cuidam dos pedestres. O trânsito seria muito melhor assim, não?

Esperançoso, ele chamou para si a responsabilidade:

- Quando eu tiver carro, vou cuidar muito bem das motos. O motoqueiro é sempre quem machuca mais, né?
- Verdade, os acidentes com moto são sempre perigosos. 

E, consciente da importância dos pequenos gestos, completou: 

- Isso também é um jeito de ser herói, né, mãe?

Exatamente, meu pequeno herói.


Economizando



Agora que é um afortunado ganhador de mesadinhas, o baixinho-grande decidiu guardar o dinheirinho para possíveis eventualidades: 

- Mãe, se você for pagar a escola e tiver faltando 7 reais e 35 centavos, é só me falar que eu te empresto, tá?



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Mau humor


Rabugentices de Vivi: 

- Mãe, o ar da televisão está fazendo a minha boca doer. 

Hã?


Histérica

Caiu! Caiu, caiu, caiu, caiu!
O quarto dentinho do baixinho-grande caiu!
E caiu comigo!!!
Viva!

Comemorando o tetra como se fosse o primeiro. 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Gemelares

A moça na rua se espanta com a semelhança da tropinha:

- Vocês são iguaizinhos!

João esclarece:

- Só eu e o Vivi. O Pedro não é gêmeo igual a gente porque ele nasceu antes.

Cascão

- Vivi, tire essa meia do pé. Você nem imagina como é difícil lavar uma meia suja de chão. 

Ele, por quem os cascões, carunchos e macucos tem uma predileção especial, contesta:

- E você nem imagina como é difícil esfregar um pé sujo de chão.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

De volta para o futuro


- Vivi, por que você estava chorando?
- Porque o João me bateu amanhã.

Homem dos sonhos

Eu observava, em silêncio, o baixinho-grande quebrar a cabeça com o para casa. Para a minha surpresa, ele também me observava. E disse, sem desviar os olhos do caderno: 

- Não gosto quando você fica assim, calada.

Homem que presta atenção e gosta de ouvir mulher falar? 
Meninas, podem comemorar. 
Príncipe encantado existe e já está a caminho. 


Só Jesus

A escola apresentou o dicionário ao baixinho-grande. Deslumbrado com a riqueza de conteúdo do livrinho, ele propôs:

- Mãe, qualquer palavra que você pensar tem aqui. Fala uma. 
- Qualquer uma?
- Qualquer uma. 
- Abelha.
- Aba, abe, abelha. Achei. Olha só: inseto que fabrica a cera e o mel. Não é muito legal?
- É sim, filhinho. 
- Quem foi que conseguiu juntar todas as palavras do mundo aqui?
- Um monte de gente, ué. 
- Ah, pensei que tinha sido Jesus. 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Pré-requisitos

Reúno a tropinha e aviso que teremos nova babá a partir de amanhã. Peço que todos se comportem e ajudem a manter a sanidade daquela boa alma. Eles concordam, mas manifestam suas preocupações:


Pedro: - Ela é legal?
Davi: - Ela gosta de brincar?
João: - Ela é bonita?

Bonita. 
João e seus pré-requisitos. 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Macaquinho



- Mãe, me dá mais uma bananinha?
- Mas você já comeu duas seguidas, João.
- É que ela tá inquível!

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Releitura

Passeando de carro pelo bairro Santo Antônio, conhecido pelo radicalismo dos seus altos e baixos, João se assustou com a inclinação das ladeiras:

- Nossa, mãe, aqui tem montanha muito russa!

Redesenhando


- Mãe, esse desenho do He-Man tá muito diferente. 
- É porque não é o He-Man, Vivi. É a She-Ra, a irmã dele. 
- Ah, é desenho da He-Menha.


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Inocência

Sexta-feira é dia do brinquedo na escola. O baixinho-grande escolheu levar três motos em miniatura, as preferidas dele. Recomendei:

- Tem certeza que você vai levar justamente essas, meu filho? A escola é grande, são muitas crianças, você pode acabar perdendo alguma. 
- Pode deixar, mãe. Eu vou tomar muito cuidado. 
- Não é só ter cuidado. Alguma criança pode pegar sem você perceber. 

Escandalizado, ele protestou:

- Não tem criança que faz isso na minha escola. 

Oh, céus!
Como tirar isso dele?

Generosidade

Agora que já é criança grande, o baixinho conquistou o direito de receber um dinheirinho toda semana. São dois reais às sextas-feiras, com a recomendação de que sejam utilizados para comprar um lanchinho na cantina da escola. Mas ele, precavido, já está procurando outro destino para a verba:

- Mãe, e se eu guardar esse dinheirinho?
- Para quê, filho?
- Para emprestar quando você precisar. 
- Não se preocupe, querido. O dinheirinho é para você. 
- Eu também posso guardar para comprar brinquedo. 
- Isso você pode fazer, sim. 
- E se for baratinho, posso comprar três, um para cada um de nós. 

Que a sua vida seja tão generosa quanto você, filhinho. 


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Surpresas de início de ano

- Alô, boa noite. 
- Boa noite, senhora. Em que posso ajudar?
- Minha fatura de cartão de crédito acabou de chegar e não estou reconhecendo uma compra.
- Qual, senhora?
- A realizada no dia 10 de janeiro. Não compraria nada com um valor alto. Nem dividiria de 10 vezes. 
- A senhora está certa disso?
- Absolutamente. Não uso esse cartão desde o ano passado. E não tenho o hábito de assumir despesas tão grandes.
- Gostaria de cancelar o cartão?
- Sim, certamente ele está clonado. 
- Aguarde alguns instantes que estaremos fazendo o cancelamento. 

Horas depois:

- Senhora?
- Sim, ainda estou aqui. 
- O cartão foi cancelado com sucesso. 
- Ótimo. 
- Vocês podem checar a natureza dessa compra, por favor?

Outras tantas horas depois:

- Senhora?
- Sim.
- Aqui consta que a compra foi feita diretamente na loja, com a sua senha.
- Então o problema é muito mais grave. Alguém sabe a minha senha. 
- Possivelmente. 
- Que horror! Vou ter que trocar de senha quando o cartão novo chegar. 
- É o mais seguro a fazer. Parece que a compra foi de material escolar. 
- Minha nossa senhora!
- Algum problema, senhora?
- Fui eu mesma, acabei de me lembrar. Não reconheci o nome da loja. Também não lembrava que tinha ficado tão caro. Mil desculpas.
- Imagine, estamos aqui para atendê-la. 
- E agora? Acabei de cancelar o meu cartão...
- Estaremos providenciando outro agora mesmo. 

Tudo bem. Mereço mesmo pagar todas as contas do mês de posse da minha sumida carteira de identidade, durante o generoso e confortável horário bancário, diretamente na boca do caixa, até o meu novo e desnecessário cartão chegar. 

Uma salva de palmas para mim!!!
E para o material escolar também! 

Tagarelice










João era a única criança a presenciar o animado diálogo entre a mamãe, tia Binha e tia Gabi. Incomodado com o excesso de progesterona, ele decretou:

- Adultas, parem de falar. 


Gostosuras de Vivi


- Mãe, esse sabonete é de que sabor?

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Para casa

Pergunta: O que é mais chato no para casa do baixinho-grande?

Resposta: O mais chato no para casa do baixinho-grande é ter que dar a infeliz, insuportável e interminável resposta completa. 

Escrevo em letra cursiva: haja paciência!


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Exorcismo

Não basta perder os calçados de seis em seis meses por causa do tamanho do pé. A moda agora é estragar as pequenas fortuninhas no primeiro mês de uso. 



Monstro que habita o pé do meu baixinho-grande, saia desse corpo que não te pertence!

Papo de mãe

      
Amigas mães, quem se identificou levante o dedo aí.
Lucas Pamplona, obrigada por nos traduzir tão bem! 

Identidade

João, ciumento, reclama:

- Mãe, por que você chama o Vivi de Vivi? 
- Foi você que deu esse apelido para o seu irmão quando era bem pequenininho, não se lembra? 
- Mas você só chama eu de João e o Pedro de Pedro. 
- É que vocês não têm apelido. 
- Então eu quero que você chama eu de Johnny. 


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Pedigree

Antes, o baixinho-grande dividia a sala com dois coleguinhas. Hoje, ele tem dois coleguinhas com o mesmo nome na sala. Mas, como para tudo se dá um jeito, ele já encontrou o dele:

- Mãe, agora eu sou o Lacerda. 

Com muita honra, meu filho.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Uniformizando

Lutando contra o uniforme novo: 

- Pedro, por favor, vista essa bermuda direito.
- Mas eu gosto desse jeito, mãe.
- Parecendo marmota?
- Não é marmota, é igual a todos os outros meninos da escola.  

Pronto, começou.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Abundância

A professora dos baixinhos-pequenos contava a fábula dos três porquinhos. Eis que, em algum momento da história, surgiu a palavra 'abundância'. Curiosa, uma coleguinha perguntou o que significava. Prontamente, João respondeu:

- É quando tem muita bunda junta, ué.

Vai dizer que não é?

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Virando criança grande

O ano começou, a escola mudou e as responsabilidades cresceram. Como tudo o que é combinado não sai caro, apresentei ao baixinho-grande as novas regras vigentes, incluindo a de estudar pelo menos uma hora por dia em casa. Ele não gostou da ideia: 

- Uma hora é demais, mãe.
- Não é tanto assim, filho. 
- Eu já fico a tarde toda na escola.
- Mas é importante estudar em casa também. 
- Que chato...
- Vá se acostumando. É disso para pior. Tem gente que precisa passar a noite inteira estudando e ainda vai trabalhar no dia seguinte. 
- A noite inteirinha?
- Sim, tia Binha já fez isso várias vezes. 

Ele passou horas remoendo a sua sina. E propôs:

- Sabe, mãe, acho que tem um jeito de eu não precisar ficar estudando a noite toda. 
- Não vai acontecer tão cedo, filho. Talvez você nunca precise fazer isso. 
- É só eu começar a estudar cedinho e não enrolar, né? 

Ele aprende rápido, não?


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Irmandade

Hoje aconteceu o que eu até então tinha conseguido evitar. Os três irmãos se separaram. O baixinho-grande foi para a escola grande e os pequenos voltaram para a boa e velha escolinha de sempre. 

A despedida se deu em clima de velório. João e Davi foram os que mais sentiram a desarticulação do trio parada dura. Antes de entrarem na escola, os dois deram um abraço apertado no irmão e, chorosos, pediram: 

- Mãe, o Pedro pode visitar a gente de vez em quando?

Fiquei com pena do sofrimento dos pobrezinhos.
Mas fiquei feliz por vê-los tão unidos.

Sabe de uma coisa?
Ter filho é muito bom. 
Mas ter irmão é melhor ainda. 

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Adeus, zona de conforto


- Animado para a começar na escola grande, filho?
- Ah, só um pouco. 
- Por que?
- É que eu já não me lembro mais de como se faz amigo.