Já faz dois anos que o baixinho-grande volta da escola à pé, na companhia dos amigos bolsistas que moram na comunidade. A caminhada é curta, em torno de 20 minutos. Mas a mochila pesada, o sol na moleira, a barriga roncando e a ladeira acima os fazem comemorar as caronas como ponto extra em matemática.
Outro dia, precisei buscar o rapaz de carro porque tínhamos um compromisso. Quase chegando em casa, vimos um dos coleguinhas subindo o morro. Não pensei em oferecer carona porque o colega estava realmente perto de casa, mas mudei de ideia depois de quase ser jogada pela janela:
- Mãe do céu, você não vai parar?
- Não vai fazer diferença, filho, ele já está quase chegando.
- Você diz isso porque não é você que sobe esse morro todos os dias.
Dramas à parte, achei bonitinho o cuidado dele com o amigo, que, como previsto, mal entrou no carro e já desceu novamente. Enquanto o víamos entrar no aglomerado, puxei um papo-cabeça com o rapaz:
- Você já parou para pensar que ele provavelmente vai ter uma vida completamente diferente do vizinho de porta pelo simples fato de ter tido acesso a uma educação de qualidade?
Ele não só já tinha pensado nisso como tinha uma certeza:
- Mãe, o Erick vai mudar a vida da família dele.
Ainda bem que não era preciso dizer mais nada. O nó na garganta não deixaria.