Hoje foi dia de a mamãe cumprir a promessa e comprar um peixinho para substituir o último, que ela deixou cair pelo ralo durante a limpeza do aquário. Sim, foi uma morte terrível, lenta e dolorosa, sobre a qual ela prefere não mais comentar. Já na loja, o baixinho perguntou:
- Moça, você tem aquele peixinho que incha? - Qual? - Aquele que incha quando fica com medo. - Ah, o baiacu. Não tenho. - Que pena. A gente precisa de um. - Mas, por que? - É que antes de cair pelo ralo ele vai inchar e não vai conseguir passar, entendeu?
A mãe, que até então fazia cara de paisagem, não sabia onde enfiar a cara. E saiu da loja se sentindo uma baiacu.
O pequeno, no auge da sua pré-adolescência de cinco anos, comunica:
- Mãe, vou dar uma festa do pijama. - É mesmo? - É, e vai ser na casa da vovó. - Sei. E ela, já está sabendo disso? - Ainda não. Aviso para ela no dia.
- Mãe, o que é Polícia Civil? - É quem investiga os crimes. - O que é crime? - É quando alguém faz uma coisa muito errada, como matar. - E se matar sem querer? - Continua sendo crime. - Quer dizer que eu não posso matar um irmãozinho sem querer?
- Onde Tabinha vai? - Para a escolinha dela, filho. - Baquinho Maelo?
Quem dera se tudo na vida se resumisse ao Barquinho Amarelo, né, tia Binha? Talvez as letras dos seus livros ficassem maiores e os seus plantões fossem mais divertidos...
Eu, que nunca quis ter um par de jarros, faço questão de vestí-los de maneira diferente. Só que hoje, um se deu melhor que o outro. Enquanto um vestia uma blusa de bichinho super bonitinha, o outro usava uma com dizeres em inglês, nada atrativa para alguém de dois anos. É claro que a injustiça da mãe terminou em provocação:
- Mi busa é zeba. - disse um, com o nariz em pé.
O outro pensou um pouquinho e respondeu, altivo e decidido:
Você percebe que está tudo bem quando, dois dias depois do pior acidente da história, você pede para ele mostrar como está o dodói e ele aponta para a casquinha do joelho esfolado há três semanas.
quando quiser assustar a mamãe, por favor, escolha um método menos sangrento. Cair do vaso sanitário e partir a língua com os dentes não é legal. Outra coisa, as madrugadas foram feitas para dormir, não para passear no hospital. Estamos combinados?
- Vem! - grita um do alto da escada. - Pode não! - responde o outro lá de baixo. - Pode sim! - Pode não, faz dodói! - Faz não, sobe! - Não, mamãe biga! - Biga não, vem!
E insitiram nesse diálogo até o 'um' se cansar e jogar lá de cima um brinquedinho para o 'outro' não se sentir sozinho.
É que, apesar de iguais, eles são muito diferentes. E, juntos, os dois se completam.
"Eu sei que ela nunca compreendeu Os meus motivos de sair de lá Mas ela sabe que depois que cresce O filho vira passarinho e quer voar Eu bem queria continuar ali Mas o destino quis me contariar E o olhar de mãe na porta Eu deixei chorando a me abençoar"
Quando a música que o vizinho ouvia terminou de tocar, me peguei num longo abraço triplo. Gravei aquela cena no coração: meus pequenininhos, ainda pequenos, grudadinhos em mim.