quarta-feira, 13 de abril de 2016

Injustiças

Na porta do supermercado, uma jovem senhora com a perna quebrada pediu ajuda para comprar comida. Disse que tem quatro filhos e os deixou em casa para tentar conseguir o que comer. Eu, com meus três pintinhos na barra da calça, não pude deixar de me comover. Eles também. 

Lá dentro, fizemos duas compras. Uma para nós, outra para ela. No caixa, enquanto um funcionário ajudava a embalar os mantimentos, o baixinho-grande advertiu:


- Esses aqui a gente vai colocar em outra sacola. É para a moça lá fora. 


O funcionário contestou:


- Ela tem passado os dias inteirinhos aí. Já perdi as contas de quantas coisas ela já recebeu. Quanto mais vocês derem, mais ela continuará na porta, pedindo. 


O baixinho argumentou:


- Mas ela disse que os filhos estão com fome. 


O funcionário retrucou:


- Ela sempre diz isso. Já é conhecida na região.


Ficamos numa sinuca de bico. Ou atendíamos à solicitação do supermercado e ignoraríamos o pedido da moça, ou daríamos os alimentos e incentivaríamos o hábito de mendigar. E como ficariam os quatro filhos com fome, se é que eles realmente existiam? 


Decidimos guardar os mantimentos e doá-los para outras pessoas, em outro contexto. 


Na saída, a jovem senhora nos viu carregada de sacolas e perguntou se alguma era para ela. 


- Infelizmente, não - respondi. 


Ela abaixou a cabeça e se resignou.
 

Eu fiz o mesmo. 
Passei algum tempo pensativa, lamentando as injustiças do mundo. 
O baixinho-grande, sensível como é, percebeu a minha frustração:

- Você não está feliz, né, mãe?

Não, filhinho. 

Êta, vida dura.

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