
Lá dentro, fizemos duas compras. Uma para nós, outra para ela. No caixa, enquanto um funcionário ajudava a embalar os mantimentos, o baixinho-grande advertiu:
- Esses aqui a gente vai colocar em outra sacola. É para a moça lá fora.
O funcionário contestou:
- Ela tem passado os dias inteirinhos aí. Já perdi as contas de quantas coisas ela já recebeu. Quanto mais vocês derem, mais ela continuará na porta, pedindo.
O baixinho argumentou:
- Mas ela disse que os filhos estão com fome.
O funcionário retrucou:
- Ela sempre diz isso. Já é conhecida na região.
Ficamos numa sinuca de bico. Ou atendíamos à solicitação do supermercado e ignoraríamos o pedido da moça, ou daríamos os alimentos e incentivaríamos o hábito de mendigar. E como ficariam os quatro filhos com fome, se é que eles realmente existiam?
Decidimos guardar os mantimentos e doá-los para outras pessoas, em outro contexto.
Na saída, a jovem senhora nos viu carregada de sacolas e perguntou se alguma era para ela.
- Infelizmente, não - respondi.
Ela abaixou a cabeça e se resignou.
Eu fiz o mesmo.
Passei algum tempo pensativa, lamentando as injustiças do mundo.
O baixinho-grande, sensível como é, percebeu a minha frustração:
- Você não está feliz, né, mãe?
- Não, filhinho.
Êta, vida dura.