- Mãe, sabe o que a gente viu hoje, na praia?
- O que, Pedro?
- Mulher pelada.
Praia é linda, menino adora, é tudo de bom, eu sei.
Mas, jura que só eu fiquei incomodada com o Pedro nadando sozinho em alto mar?
E o que dizer sobre Davi e João lutando MMA dentro d'água?
Mas nada, nada mesmo, se compara a essa desastrosa homenagem do Vivi ao (argh) Cruzeiro:

Quem acha que esses meninos estão precisando de mãe põe o dedo aqui, que já vai fechar.
Conversando com o João sobre o primeiro dia de praia:
- Tô com tanta saudade, filhinho...
- Eu também.
- Vocês já voltam amanhã, né?
- QUÊ???
E me mandou um beijo, tchau.
Uma salva de palma para mim, que aprendi a lição do ano passado e fiz uma poupancinha para comprar o material escolar triplo à vista.
Dê-me licença, estou sofrendo de ressaca antecipada.
Os pequenos vão viajar para a praia com o pai, amanhã, e o cotovelo já dói.
Sem mais.
No carro, um baixinho-pequeno ouviu um não qualquer e desabafou:
- Você não é uma mãe muito boa.
Pausa para uma explicação.
Sempre morri de medo de que eles começassem com essa moda. É um passo para o 'eu te odeio', que vejo tantas crianças vomitando contra as mães por aí. Já prevendo que isso um dia me aconteceria, coloquei em prática uma estratégia que estava engatilhada há tempos.
Imediatamente, estacionei o carro e determinei:
- Desce do carro.
- O que?
- Desce do carro agora.
- Como?
- Vá procurar uma mãe melhor que eu por aí.
- Que isso, mãe?
- Isso mesmo que você ouviu. Se eu não sou uma mãe muito boa, procure outra.
Silêncio triplo.
- Também vou procurar um filho que seja mais agradecido que você. Tenho certeza que tem um monte de criança querendo uma mãe como eu.
E comecei o blá, blá, blá de sempre, que nunca mais será o mesmo depois dessa.
Assim espero.
Na casa de uns amigos, a anfitriã oferece pão de queijo. O baixinho-grande não só aceita, como entrega todo o bastidor que antecede a visita:
- A mamãe falou que só pode aceitar uma coisa de comer.
Feliz de quem cai da cama e, ao invés do chão, dá de cara com um irmão.
Fomos à missa no domingo. O baixinho-grande, pouco habituado aos ritos católicos, quis saber o que era 'aquilo' que o padre estava dando para as pessoas comerem. Expliquei que era a hóstia, alimento sagrado que representa o corpo de Cristo. E que naquela taça onde a hóstia era mergulhada havia vinho, uma representação do sangue de Cristo.
Após ouvir atentamente as explicações, ele sugeriu:
- Mãe, por que o padre não coloca catchup? Parece muito mais com sangue. E ainda ia deixar essa torradinha uma delícia!
Tem gente começando a contagem regressiva para os oito anos:
- Mãe, faltam exatos dois meses para o meu aniversário.
- Pois é, filho.
- Você não está feliz?
- Estou. Mas fico um pouco triste por vocês estarem crescendo. Coisa de mãe.
- Mas filho é filho pra sempre, ué.
Por favor, querido, lembre-se disso quando estiver maior do que eu.
João termina de almoçar e pergunta:
- E agora?
- E agora o que, filho?
- O que a gente vai comer?
- Nada.
- Nada?
- Nada.
- Mas eu tô com fome.
- Não está. Você almoçou e repetiu. Isso não é fome.
- É sim.
- Não é, não. É vontade de comer.
- Minha barriga nem tá enchida ainda.
- Quer dizer que, para ficar satisfeito, você come até a barriga quase explodir?
- É. E quando ela tá bem cheia eu vou lá e faço cocô. Aí cabe mais.
O baixinho-grande foi convidado para dançar valsa com a filha da babá na festa de 15 anos dela.
Agora, pergunto a você:
Ele é ou não é um príncipe encantado?
O baixinho-grande dá um pulo da cama e vem correndo contar:
- Mãe, adivinha quanto a fada do dente deixou para mim?
- Quanto, filho?
- 10 reais!!!
D-e-z reais por um dente de leite.
Acho que a fada fiquei louca.
A nova moda do João é se colocar no lugar do porquinho da rainha vermelha do filme Alice no País das Maravilhas. Tudo o que tenho que dizer é:
- Preciso de um porco aqui.
Ele rapidamente se deita no chão, levanta a blusa e alegremente oferece a pança branquinha para eu descansar os meus pés doloridos. Eu devia estranhar a nova mania, eu sei.
Mas, como boa rainha que sou, tudo o que desejo é vida longa ao meu reinado.
Precisei ir ao banco para fazer uma transferência diretamente no caixa. Como a tropinha foi comigo, fiz mil recomendações, porque banco está longe de ser parque de diversões. Passamos pela porta giratória, pegamos a senha, descemos a escada e aguardamos a nossa vez. Enquanto eu estava sendo atendida, eles se comportaram como eu nunca vi antes. "Estão crescendo", pensei comigo, satisfeita. Que nada. Foi só eu relaxar para a bagunça começar. Subindo as escadas para ir embora, Pedro correu na frente, chamando a patota, que já começava o seu barulhento fuzuê.
Quando eu terminei de subir a escadaria, Pedro já estava na sua terceira volta da porta giratória. E os baixinhos estavam na fila, esperando a sua vez de subverterem a ordem. Para a minha alegria, o segurança, que observava toda a cena, rapidamente entrou em ação:
- Obedeçam sua mãe, crianças. Ou vou ser obrigado a prender vocês.
Era tudo o que eu precisava. Dei o meu olhar rasante para confirmar a gravidade da repreenda e eles ficaram feito estátuas, envergonhados e arrependidos.
Aquele guarda nunca vai saber, mas se tornará a pessoa mais citada nos meus sermões.
Te devo uma, seu guarda.