- Mãe, têm umas adolescentes que não largam do meu pé.

- Ficam correndo atrás de mim na escola, batendo no vidro da minha sala e mandando beijinho. Gritam meu nome e do João quando estamos no pátio.
- Hummm...
- Teve uma que até me pediu em casamento na educação física.
Segurei para não rir, porque o assunto parecia sério demais para baixinho.
- E você não gosta disso?
- Claro que não, né, mãe? Eu sou uma criança! - golpeou-me com suas luvas pequeninas.
- Você já tentou conversar com elas sobre isso? Dizer que fica incomodado?
Ele balançou a cabeça negativamente, envergonhado. E continuou o desabafo:
- Sabe, mãe? Eu bem que queria ser feio. Não queria ter olho verde. Queria ter um monte de verruga na cara. Três, na ponta do nariz. Queria ser bem esquisito, só pra ninguém ficar falando que eu sou bonito.
E fiquei refletindo na amargura daquele pequeno. Está experimentando aquilo que nós, mulheres, vivemos na pele todos os dias ao andar pela rua. Recebemos galanteios de estranhos e o máximo que podemos fazer para nos defender é fechar a cara e seguir em frente. Solidarizei-me com o baixinho:
- Sei o que você está sentindo, filho. E não é nada bom. A gente tem que encontrar maneiras de se defender. Muitas vezes, as pessoas não fazem por mal. Outras, sim. Pedir ajuda é um bom caminho.
Ofereci um abraço apertado. E pensei comigo: menos um homem para andar por aí invadindo o espaço dxs outrxs. Que assim seja.