quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Sopro de esperança

Procuro incentivar os pimpolhos a exercerem o desapego, porque somos privilegiados e temos muito. Em casa, estamos prontos para doar qualquer coisa que nos pertença, desde que seja mais útil para o próximo do que para nós.

Para a minha alegria, eles vêm aprendendo. Tive uma demonstração disso na saída do estádio, numa noite de sexta-feira. O baixinho-grande estava com uma caixinha de suco que sobrou da comilança da arquibancada. No caminho para o carro, ele se deparou com um morador de rua, já preparado para dormir. Com a doçura que lhe é característica, estendeu as mãozinhas e ofereceu:

- Você quer esse suquinho, moço?

Admirado com a conduta do pequeno, o morador de rua se levantou do seu colchão, ajoelhou-se na frente dele e o abraçou. Não parava de repetir o quanto ele era especial:

- Você é um anjo que veio alegrar a minha noite. Vou ter um dia bem melhor amanhã.

Emocionados com a reação daquele homem, fomos embora refletindo sobre a miserabilidade do ser humano. Não me refiro a ele, é claro. Mas a todos os que insistimos em tratar de maneira diferente os iguais. Aquele homem, tantas vezes invisível, foi notado por uma criança de coração puro. Apesar da aridez da vida que leva, do peito dele transborda amor.

Sim, ninguém é tão pobre que não tenha nada a dar, nem tão rico que não tenha nada a receber. Naquele dia, nós recebemos. Eu mais ainda, por ver brotar das mãos do meu pequeno atitudes que confirmam que esse mundo ainda tem jeito.


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