quarta-feira, 15 de abril de 2015

Desabrochando

Minha mãe é uma jovem de 54 anos. Casou-se aos 18, prestes a ganhar o seu primeiro filho. Enquanto meu pai provia a família lá fora, ela, numa valentia adolescente, matava os leões da maternidade todos os dias.

A flor que desabrocha na adversidade
é a mais rara e bela de todas
Quatro dias depois de ela completar 21 anos, eu nasci. Exatamente 11 meses e 17 dias após o nascimento do meu segundo irmão. Ela, tão jovem, já era mãe de três.

Seis anos depois, mais uma filha. Na tentativa de se reencontrar como mulher, conseguiu, a duras penas, formar-se na faculdade de Comunicação Visual. Pronta para finalmente entrar no mercado de trabalho, engravidou da quinta filha. Não tinha nem 30 anos.

Dedicada, continuou sua jornada de mãe em tempo integral. Abriu mão dos seus sonhos para que os filhos realizassem os deles. Viu cada um tomar o seu rumo e voar. O casamento terminou, o ninho se esvaziou e ela, pela primeira vez em quase cinco décadas, viu-se sozinha. O tamanho da casa era proporcional ao vazio que transbordava do peito.

Tentou se encontrar em um novo curso superior. Educação Artística. Sempre fora talentosa e sabia disso. Começou no seu ritmo, sem pressa. Enfrentou seus medos, superou seus bloqueios. Agora está prestes a se formar. Voltou a sonhar. Quer começar a trabalhar e viver do seu próprio dinheirinho.

Recentemente, conseguiu o seu primeiro estágio remunerado, contrariando as próprias previsões. Foi selecionada entre vários jovens. Apresentou seu currículo modesto, preparou-se para a entrevista e saiu de lá com a vaga.

Hoje, tenho a honra de vê-la recomeçar de onde parou, mais de trinta anos depois. Poucos filhos têm a chance de aplaudir as vitórias dos pais, numa desafiadora contravenção à ordem natural das coisas.
Sou uma dessas privilegiadas.

Vai, minha mãe.
Cá estou, na primeira fila, pronta para te ver brilhar.
E já te aplaudo de pé.


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