segunda-feira, 5 de maio de 2014

Aventura

Sábado foi dia de cortar o cabelo. Como era um dia tranquilo, sem grandes compromissos de horário e com o trânsito razoável, decidi levar a tropinha de ônibus para o salão. Pensei que a novidade poderia fazer parte do programa. E que propor um choque de realidade para três rapazinhos que não sabem o que é andar à pé, esperar no ponto do ônibus e dividir o espaço com gente de todo o tipo poderia ser uma experiência legal. 

Até que foi. Tirando o fato de que o primeiro ônibus passou direto, ignorando solenemente o sinal de parada que os baixinhos e eu fizemos, animados. E uma outra aventura nada legal que conto daqui a pouquinho. Ao ficar no vácuo, com o bracinho esticado, um dos baixinhos-pequenos perguntou:

- Mãe, não era para ele ter parado?
- Era, meu filho.
- Ele não viu a gente?
- Não sei - respondi, apesar de saber que se tratava apenas de falta de profissionalismo e gentileza.

- Tem problema não, filho. Já, já passa outro, vamos esperar.

O outro veio. E parou. Os três subiram, cumprimentaram motorista e trocador, passaram a roleta e se assentaram nas cadeiras disponíveis. Evitaram as preferenciais. Dividiram espaço com outros passageiros. Ficaram bonitinhos e aproveitaram a novidade. Até a hora de descer. Um ponto antes do desembarque, reuni a tropinha e recomendei:

- Gente, preciso que vocês me ajudem. Pedro, você desce na frente. Antes de sair do ônibus, olhe para os dois lados e veja se está tudo bem. Tome cuidado com o degrau para não cair. E me aguarde descer com os irmãos, logo atrás. João e Davi, vocês ficam segurando a minha mão e não soltem por nada, pelo amor de Deus. 

Recomendações feitas, demos o sinal. O ônibus parou. Pedro desceu. Quando me preparava para descer com os baixinhos-pequenos, o motorista, desavisado, fechou a porta do ônibus e ameaçou arrancar. O baixinho-grande ficou sozinho na rua, à beira do desespero, enquanto os irmãozinhos e eu ficamos, aos berros, presos dentro do ônibus. Para a nossa sorte, o motorista percebeu o equívoco antes de seguir viagem. Mas, ver o baixinho-grande sozinho, no cruzamento de duas das principais avenidas de Belo Horizonte, funcionou como uma surra em mim.

Quando, enfim, conseguimos descer, o baixinho estava aos prantos. Quase chorei também. Tentei acalmá-lo com um abraço apertado e disse que estava tudo bem. Aproveitei para relembrar com ele os telefones e o caminho de casa. Disse a quem ele poderia recorrer caso aquela situação, Deus nos livre e guarde, voltasse a acontecer. Expliquei que nem tudo sai como a gente planeja e que o mais importante é ter cabeça fria para tomar novas decisões quando preciso. 

Tudo certo no discurso. Mas, na prática, estávamos os dois em frangalhos. Minha vontade era colocar os três dentro da barriga de novo. Fiquei pensando: como é que aquelas mulheres fazem para andar nesses ônibus lotados, dia após dia, carregadas de filhos, sacolas e preocupações?

O jeito é tentar prepará-los, na medida do possível, para o que os espera do lado de fora de casa. E rezar para que as aventuras não deixem sequelas além do frio na barriga.

2 comentários:

  1. :´-(

    Tadinho, kk, imagino o susto...
    Agora você vai ter que andar de novo de ônibus com eles para não ter trauma... Dessa vez vai com mais alguém pra te ajudar.

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    1. De partir o coração, né, Mari?
      Temos que tirar a prova, é verdade. Quem sabe você não se habilita quando chegar a vida pós-doutorado? Vai ser uma farra!

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