Essa noite, sonhei que estava vendo televisão na sala, meio dormindo, meio acordada. Até que ouvi um menino rolar da cama e se espatifar no chão. Dei um pulo do sofá e corri para acudi-lo.
No meio do caminho, surgiu uma inesperada parede. Assim, bem grande, branca e boba.Dei de cara com ela. Completamente zonza, socorri o menino e adormecemos novamente.
Acordei achando tudo muito esquisito. Até encontrar a prova no crime na minha testa, em alto relevo. De tão real, o sonho me deixou um galo de lembrança...
O pequeno decidiu quebrar o cofrinho que vem cultivando há dois anos. Está ansioso para saber o que a pequena fortuna lhe reserva. Mas, antes que o entusiasmo tomasse conta dos seus planos, ele mesmo advertiu:
- Antes de comprar o que eu quiser, vou guardar um dinheirinho para comprar outro cofrinho.
- Mamãe, você vai morrer? - Claro que não, filho, é só uma dor de garganta. - Mas eu tô muito preocupado com você. - Não precisa, vou ao médico e vai ficar tudo bem. - Posso ir também? - Não, filho. Só vai ao médico quem precisa. - Então você me conta tudo o que ele falar? - Conto, mas por que você quer saber? - Porque eu é que vou cuidar de você, ué.
- João, quem derramou leite na cama da mamãe? - Peta - respondeu, sem pestanejar. - Não foi o Pedro, ele está na casa da vovó. - Papai - partiu para o plano 'b'. - Papai está viajando, seu danadinho. - Vivi - apelou para o plano 'c'. - Davi está dormindo, deixe de ser sem vergonha.
Após esgotar seu vasto repertório de palavras com duas sílabas e perceber o cerco se fechando, ele olhou para o passarinho de brinquedo, primeiro que viu pela frente, e disse:
- Piu piu.
Sem mais testemunhas no julgamento, tive que arquivar o processo.