Nem sei o que dizer de 2015.
Mudei de casa quatro vezes.
Casei.
Saí do trabalho.
Plantei um novo projeto profissional.
Nem sei.
Só sei que valeu.
Pode vir, 2016!
Trovão, o bruto, empolgou-se na brincadeira e deu uma focinhada na cara de um dos irmãos-iguais. Furioso, o pequeno teve o impulso de lhe devolver o safanão. Mais que depressa, o baixinho-grande, amigo fiel, entrou na frente e evitou a vingança:
Os quatro homens da minha vida têm se dado muito bem. Exceto quando os baixinhos-pequenos voltam da casa do pai repetindo umas frases que seriam trágicas se não fossem cômicas.
- Eu acho que meus dentes vão estar muito ruins.
- Eu gosto da sua gargalhada, mãe.
- Sabe, mãe? Eu ainda acredito um pouco. Nesse ano, vou ficar acordado para ver por onde ele entra. Não pode ser pela janela, porque tem grade. Deve ser pela porta mesmo. Aí ele vai dar de cara comigo quando entrar, você vai ver.
Resignado, o baixinho ferido se deitou e dormiu, soluçando de tanto chorar. Acordou com o dedo da mão roxo e inchado, só para me matar de culpa. Ele, vingativo, ainda tripudiou:
Reafirmei que dignidade é um bem precioso, pelo qual todos devem zelar. E que nunca, jamais, em tempo algum, podemos permitir que separem as pessoas por raça, classe econômica, orientação sexual ou qualquer coisa que o valha. Pedro teve dificuldade de entender a que segregação eu me referia:

- Mãe, a mãe do Arthur é mais boa que você.
Nossa casa foi invadida por pernilongos. Os covardes seres das trevas esperam a noite alta para atacar. E preferem o quarto dos meninos, porque lá tem carne macia e de primeira. Na noite passada, Pedro se irritou com os ataques e decidiu dormir no sofá da sala. Quando percebeu que o terreno estava seguro, convidou os irmãos também, que prontamente aceitaram a oferta. Só descobri a movimentação no dia seguinte, quando me deparei com o baixinho-grande dormindo no tapete e os irmãos-iguais dividindo o sofá. Intrigada com a cena, perguntei ao baixinho:
A professora do Davi está no final da sua licença-maternidade. Frequentemente eu pergunto se ela já voltou para a escola. Sabendo da minha curiosidade, ele decidiu usar a resposta como moeda de troca:
Pedro e João têm se estranhado, ultimamente. Começa com a provocação de um e termina com os pontapés do outro. Os arranca-rabos têm sido cada vez mais sérios e resultam em castigos severos para os dois. Quase morro com isso, porque acho que não tem nada mais triste do que irmãos brigando. Eu tenho a sorte de ter os melhores do mundo, companheiros de uma vida inteira de alegrias e tristezas. Quero muito que os meus também desfrutem desse privilégio.
No estacionamento do shopping, Vivi pediu para parar o carro em uma vaga distante. Respondi que não, que tinham melhores. Ele insistiu. Perguntei por que ele queria tanto aquela vaga. Ele apontou para um aglomerado de mocinhas e se explicou:
Li uma reportagem que afirma que o criminoso é o novo bicho papão das crianças. Segundo a enquete feita pelo jornal, o medo de sofrer algum tipo de violência assombra 65% dos pequenos entrevistados.
Pedro recebeu mais uma circular convidando para um jogo fora da escola. Me entregou o bilhete com todo cuidado do mundo. Li e deixei sobre o banco da frente do carro. Ao sair, fui repreendida:
Enquanto estava nesse suplício, só conseguia pensar: onde estavam os sinos badalando e os anjos abençoando aquele momento tão mágico? Onde estava o prazer quase orgásmico que as mulheres diziam sentir? Por que eu não conseguia achar bom o fato de ser a única fonte de alimento dos meus filhos? Não sei. Simplesmente não foi para mim. Acho que não é para um monte de gente.
- Mãe, eu nasci pelado?
- Mãe, tenho uma notícia boa e uma ruim.