Amor e ódio

Davi foi contrariado por um dos irmãos. Sem perder a elegância, ele respirou fundo e disse:

- Vou te matar.

Sim, é muito amor...

Vivi e suas gostosuras

- Mamãe, na casa do papai, a televisão mora em cima da cadeira.

Tradição

Chegou o dia do temido projeto sobre a culinária mineira. A criança prepara uma receita típica, registra o passo a passo da obra e leva a quitanda para os coleguinhas provarem. Hoje foi a vez do João.

A mamãe, que não é nada boba, sacou da manga um clássico: canudinho de doce de leite. Explicou cada etapa do processo e deixou o baixinho se lambuzar à vontade.

Na hora de contar a aventura para a professora, o danadinho olhou para o alto, como se estivesse se lembrando de cada detalhe, e soltou:

- A gente fez mandioca!

A despeito do projeto gastronômico, suas gracinhas já viraram tradição, filhinho...


 

Sofisticando

- Mãe, bem que 'uva' podia ser escrito com dáblio, né?

Só para constar: quem fez a pergunta foi um rapazinho cuja mãe se chama Katharina.

Amor de mãe

Sei não.

Deve ter alguma coisa errada comigo, só pode.

Após passar os últimos três anos clamando por uma noite inteirinha de sono, como alguém pode acordar - mais de uma vez, por sinal - só para conferir se os filhos estão quentinhos? 

Esse tal amor de mãe ainda vai acabar comigo...

Mãe de aluguel

Hoje é dia de aula do afeto no judô, quando as mamães participam do treino com os filhotes. Estaria tudo bem, não fosse o fato de os três serem da mesma turma. Resultado: muito filho para pouca mãe. Tia Binha e tia Gabi vão ter que entrar na roda. Com direito a votação:

Tia Gabi fica com o baixinho-grande, porque ela é mais forte.

Tia Binha fica com o Davi, que pediu primeiro.

Eu fico com o João, que não teve escolha mesmo.

Porque não basta ser tia, tem que ser mãe de vez em quando.

Companheiro

Depois de tagarelar sobre placas de comércio, marca de carro, comportamento humano e animais de estimação, o baixinho-grande perguntou:

- Sobre o que vamos conversar agora?

Sobre a sua capacidade de fazer a mamãe se esquecer do tempo e dos engarrafamentos pela cidade afora, pequeno.

Complô

Pronto, agora chega!

Veja se eu não tenho todos os motivos do mundo para estar com dor de cotovelo: depois de o primeiro dentinho cair no único dia da semana em que o pequenininho não fica comigo, o segundo dentinho escolheu exatamente o mesmo dia para cair também, só que duas semanas depois.

Complô contra mãe deveria ser punido com três dias de piriri gangorra.

Crescendo

Pedro vai se despedindo da primeira infância. Já não são todas as brincadeiras que despertam interesse. Nem todas as bagunças dos irmãos são motivantes. Não quer saber de qualquer tipo de conversa.

Às vezes se mistura, às vezes não.

Preocupada com a mudança de comportamento, tia Gabi perguntou:

- O que você tem, Pedro?

Ele respondeu, sem entender o motivo da pergunta:

- Micose.

E saiu andando. 

Chamando a atenção

João anda enciumado com o protagonismo do Pedro e a queda do primeiro dentinho de leite. Sem querer ficar para tras, chamou a atenção:

- Mamãe, meu dente dulo tá doendo...

Sem dente

O baixinho-grande está descobrindo as vantagens da banguelice:

- Agora eu posso tomar canudinho sem abrir a boca.

Chame o gerente, por favor

Tenho uma reclamação formal a fazer.

Três meses acompanhando o balanço do primeiro dentinho mole...

Três meses medindo cada nova inclinação...

Três meses negociando o presentinho com a fada do dente...

Três meses especulando como e quando o danadinho iria cair... 

Três meses administrando a ansiedade do protagonista...

Até que o infeliz escolhe o único dia da semana em que o dono não está com a mãe e...  

... cai.

Pode isso, Arnaldo?

Xingando a mãe

Davi me fez o favor de fechar as portas do carro com a chave dentro. Sim, quase morri de ódio durante a uma hora e meia em que fiquei plantada do lado de fora esperando o bendito chaveiro chegar.

Xinguei até a última geração do dito cujo, que, no caso, era eu mesma. Depois de desembolsar uma pequena fortuna pela travessura, preciso pedir licença ao amigo leitor para fazer um último desabafo:

FDP!

Dia das mães

Porque o melhor presente do mundo ainda é abraço de filho.

Vezes três.

Como nascem os bebês

- Mãe, a Júlia e o Luan nasceram da barriga da mãe deles. E eu, como nasci?

Pausa para a mãe pensar numa saída emergência.

- De cabeça para baixo, filho.

É tudo o que posso dizer por ora.

Ajuda

João e Davi chegaram dormindo da escola. Pelo telefone, pedi ajuda à tia Binha para subir os seis andares com a duplinha. O baixinho-grande se compadeceu com o meu aperto e, lembrando que a tia Binha estava se recuperando de uma rouquidão, cruzou os dedinhos e disse:

- Tomara que ela esteja em casa. Nessa hora, até quem está sem voz ajuda...

Prático e rápido

A escola está desenvolvendo um projeto super legal sobre a culinária mineira. Cada criança é responsável por preparar uma receita típica no final de semana e levar o prato pronto na segunda-feira. O passo a passo é registrado em um livrinho, que ao final do ano é sorteado entre os próprios alunos. 

As mães são as mais empolgadas. Tiram fotos dos filhos de avental, chapéu de mestre-cuca, compram os ingredientes no mercado central, blá, blá, blá. Eu, que quase não me aguento em pé de tanta coisa para fazer no final de semana, estou imaginando o que vamos fazer quando chegar a nossa vez. Principalmente porque o trabalhinho é em dose dupla. Como quem não quer nada, perguntei à professora:

- Podemos levar pipoca de microondas?

Virando ogro

É, não tem jeito. O baixinho-grande está crescendo mesmo. Não bastasse o chulé característico das crianças adultas, agora ele deu para ter micose entre os dedos do pé. Restou à pobre mãe aqui os rituais de pomada três vezes ao dia. Em uma das sessões de cuidado com o pé alheio, ele ignorou a minha cara de nojo e desabafou:

- Adoro quando você passa a pomada. É bom porque já dá uma coçadinha, sabe?

Sim, ele está crescendo.

Crescendo e virando ogro.

Destino

Vivi acorda mal-humorado e pergunta:

- Onde a gente vai, mamãe?

- Para a escola, filho.

- De novo?

De novo e para sempre, filho...

Vivendo e aprendendo a jogar

O pequeno-grande aproveitou o feriado do dia do trabalho para jogar uma rodada de banco imobiliário com os amigos de escola. Ao final, perguntei quem tinha vencido. Frustrado, ele respondeu:

- O banco, mãe. 

É assim comigo também, filhinho.

O banco sempre ganha...